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domingo, 30 de maio de 2010



Meu vô foi o único que tive, mas valeu por uns cinco. Pelo menos. Meu avô me levou na garupa, me ensinou a nadar, a furar onda, pegar jacaré e a boiar. Ninguém bóia como ele, tranqüilamente, enquanto as ondas do nosso mar revoltado tentam acordá-lo do sono fingido. Mas ele me ensinou coisas ainda mais importantes, grandiosas mesmo, que criaram o que sou.
Por isso quando ele diz que sofre, eu sofro também e tenho uma raiva imensa de quem o faz sofrer, mesmo que esse alguém seja eu mesma.
Não é esportista, mas sabe tudo de futebol e tem na memória um acervo de partidas inacreditável. Não é engenheiro, mas sabe tudo de construção. Não é cozinheiro, nem nunca trabalhou no Mac, mas suas batatinhas fritas são imbatíveis (e não são das congeladas!!) Ele é meu vô e isso ele também sabe ser como ninguém mais.
Por isso, quando ele diz que vai morrer, eu quase me ofendo. Como pode? Como vou me virar sozinha? Não! Como eu sempre digo para ele: tu não estás autorizado a morrer! Tu ainda vai embalar teus bisnetos e eu ainda quero passar muito tempo contigo. E se alguém me perguntar quanto tempo vai ser o bastante. Vou responder que nenhum tempo será o bastante e avós como os que tenho deveriam ser eternos!

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