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segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Fadada à alegria

Era um dia para ser triste. Se meu pai estivesse vivo, completaria 53 anos.

É certo que já tive em muitos anos a chance de chorar essa perda, mas nesse ano me dei conta de como eu seria diferente de mim mesma se ele estivesse vivo e definitivamente não sei se eu gostaria dessa outra versão de mim mesma. O que me fez concluir que a morte dele teve uma função. Isso me deu uma dose de culpa. E me deixou meio chateada.

Cheguei no trabalho, ganhei água na mesa, porque uma querida colega sempre deixa minha garrafa cheia ao chegar; depois, uma cliente veio me procurar só para me deixar um presente - pelo simples fato de eu tê-la atendido - eu nem a atendi muito bem, andava atucanada com coisas que dessem resultados (clientes, em um banco, nem sempre são os resultados pretendidos).

À tarde, estava organizando umas gavetas e encontrei um cartão que chegara a pouco, de um colega, o chamei e entreguei. Recebendo-o ele disse: se tu não existisse, seria necessário te inventar. Sei que não falou isso por esse ato isolado, o que faz ter ainda mais valor.

Logo depois fui pedir um favor a outro colega, estava me preparando para pedir uma coisa que sabia que ele não gostava muito de fazer e cheguei fazendo rodeios. Ele me olhou e disse para a cliente que estava atendendo: não é uma gracinha?! E não foi irônico. Mais tarde, a estagiária que trabalha conosco trouxe uma garrafa de Coca-Cola e disse brincando: vamos abrir a felicidade? (Em menção à propaganda)

Fui para casa mais feliz, mas ainda desconfortável. Passei na casa da mãe para deixar umas coisas e nós (minha mãe e meus dois irmãos) sentamos e tomamos um chimarrão. A mãe comentou que seria aniversário dele e comentamos um pouco sobre isso. Nada trágico. Fui buscar o meu marido para irmos para casa e ele me convidou para jantar e ver um filme. De repente comecei a chorar. Ele tentava me consolar de todo jeito, se desculpava por milhares de coisas que julgava serem motivos de tal crise de choro; quando consegui respirar, falei o que tinha me deixado triste, ele continuou me consolando até que eu mesma não visse mais sentido nenhum em chorar e fiquei feliz.

Parece que existem pessoas fadadas a tristeza, acho que sou fadada a felicidade.