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quinta-feira, 6 de abril de 2017

Por que a Juliana Paes devia ter ficado quietinha

Gente, eu já fui a Juliana Paes, eu também já achei que achei que o feminismo tinha muitos exageros. Eu não concordo com todas as pautas do feminismo, mas ainda há tantos motivos para lutar. Ainda há tanto José Mayer por aí. A maioria deles nem está disposta a escrever uma cartinha de desculpas. Por isso não é hora de focar nos detalhes que nos dividem.

Me nego a comentar certas notícias, por exemplo (tá bom, eu não aguento! e a notícia é de hoje!):

http://brasil.elpais.com/brasil/2017/04/06/cultura/1491489325_495530.html

São só pedrinhas, pequenas polêmicas para dividir as opiniões, pois eles estão com medo. Sim, meninas, eles estão percebendo que é a hora deles começarem a sentir medo. É claro que não é nada perto do medo que sentimos toda vida: o medo da violência, o medo da morte, é só um medinho de perder velhas regalias, mas não deixa de ser um medo. Por isso as milhares de pedrinhas e algumas pedronas surgirão para impedir ou, pelo menos, atrasar esse processo, por que já notaram que juntas somos muito fortes, juntas somos mais fortes, juntas somos fortes demais.

Eu digo sem orgulho nenhum que muitas vezes já fiz o papel dessa mulher atrapalhada que não entende a dimensão do que está dizendo. Eu já comentei que nenhuma mulher está feliz com seus cabelos num post onde uma amiga contava as agruras de assumir um black power. Que tolinha era eu! Eu realmente achava que minha inúmeras tentativas de cachear meus cabelos lisos tinham o mesmo fundamento que as tentativas dela de alisar, que bom que ela teve paciência comigo... e desculpa aí, Camila, que nunca é tarde. Por isso eu entendo a Juliana Paes e espero que ela nos entenda pois precisamos nos unir.

Meninas, gurias, mulheres, senhoras, velhinhas uni-vos que o que vos separa é menor!

MEXEU COM UMA, MEXEU COM TODAS!!!

quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

Outro número, outro número, outro número.

Eu não sou o 35, o 5085774932, o 99419319091, o 113673, o b3433 ou o c106580. Em algum momento da vida, esses números me representam, na chamada, no rg, no cpf, no número de matrícula, mas ninguém quer ser só um número, só mais um, só um igual.

Embora eu acredite que a igualdade seja um princípio muito importante, a sensação de ser tratado como um a mais, essa sensação de despersonalização é amarga. Com o tempo e o amadurecimento, já me acostumei a esse gosto amargo e, como aconteceu com o chimarrão, não só me acostumei como acabei gostando. Hoje gosto de ser discreta, não criar polêmicas e não atrair a atenção para mim, mas foi um processo doloroso de construção de alguém dentro de mim confiante o suficiente para gostar de ser ninguém.

Escrevi há muito tempo um post sobre as diferenças entre a Seleste e a Preta e ele é até hoje muito significativo para mim. A Preta era uma pessoa e a Seleste é uma cidadã. A Preta era do âmbito familiar, a segurança pura, a convicção de ser especial. A Seleste é do âmbito do universo, cônscia de seus deveres e resignada na sua insignificância.

http://apropositodeportoalegre.blogspot.com.br/search?q=preta+e+seleste

Sei também que a cidadania, naqueles termos de Sérgio Buarque, é a despersonalização, a consciência da igualdade das instituições frente às pessoas. Tudo bem. Já escolhi meu lado. Prefiro ser tratada como igual para que todos assim sejam, a fim de que nem eu nem ninguém sinta-se ludibriado.

Mas com a minha filha é diferente, não consigo tolerar essa despersonalização do serzinho mais especial de toda minha vida, minha pérola de afeto e carinho. Ela representa hoje toda razão da minha vida, tudo que eu tenho eu trocaria por ela sem titubear.

Acontece que, depois de quase dois anos sob os cuidados amorosos dos bisavós, tive de deixá-la aos cuidados de uma escolinha. Embora eu tenha visitado muitas e optado por essa por sentir-me segura, é uma escolinha e não espero que minha filha tenha nenhum tratamento especial. Mas ela espera, quer e exige. Olhando assim o leitor pode pensar que ela é só uma criança mimada e isso só mais uma fase do seu crescimento. Eu até concordo, mas acho que há mais do que isso em suas queixas e revoltas.

Ela quer ser tratada como uma pessoa. Uma pessoa come quando tem fome, brinca quando tem vontade, fala quando tem o que dizer, uma pessoa tem posições, não concorda com tudo e deseja ser respeitada, uma pessoa não é mais um na fila.

Eu não vejo como a escola poderia comportar pessoas. As pessoas vivem em suas famílias e minha filha sofre por ter sido tirada de lá. De não passar o dia como o amor do vovô, a lindeza dos dindos, a queridinha da bisa e o centro da vida da vó. Tudo isso é muita coisa para se deixar sem protestar.

É claro que ela não entende nada, mas contesta. Diz todo dia que não quer ir para escola. Na escola, só quer ficar sob os cuidados de uma professora e quer toda sua atenção para ela, quer ser especial, respeitada em seus desejos e seus momentos. E não sei se ela está errada. E não sei se estamos certos. Sei que, por hora, estamos sofrendo.