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sábado, 23 de junho de 2012

A propósito de professores



Não é por que sou professora (até por que sou professora só de meio turno), mas não existe nenhuma outra profissão que exija tanto esforço. O nosso trabalho está sempre conosco: tudo que lemos, vimos e ouvimos é filtrado para sala de aula. Passamos a vida a preparar, ministrar e corrigir e ministrar novamente até que se compreenda. Mas não é só esse nosso desafio.

O professores enfrentam salários miseráveis, péssimas condições de trabalho e alunos cada vez mais arrogantes (e, por isso, com mais dificuldade de aprender) que tratam professores como se fossem clientes e não alunos. A propósito, talvez devêssemos voltar a chamar a relação de aluno/professor de relação discípulo/mestre para voltarmos a saber qual é fluxo do conhecimento. Sim, sou meio direitista nesse aspecto - acho que professores aprendem muito com seus alunos, mas ainda acho que eles tenham de ter mais o que ensinar.

Os professores também enfrentam uma profissão não regulamentada na qual ocorrem n invasões de mercado de trabalho, precisam lidar com a ilegalidade de seus governantes que não pagam o que justiça manda e ainda são atacados pela polícia se tentam reivindicar seus direitos. Além de tudo isso, acabam por se prejudicar, pois sempre se solidarizam com seus alunos de tal forma que tiram de si para doar.

Hoje fui a Canoas como minha irmã ver seu vestido de noiva e, na volta, me deparei com uma imagem peculiar: dois jovens vestindo kimonos com caixinhas pedindo dinheiro para irem a uma competição. Enquanto os jovens pediam, o professor passavam entre os carros tentando explicar a situação da seguinte forma: procurem na internet, em agosto, vamos ao campeonato e não ganhamos nenhuma ajuda governamental.

A falta de apoio ao esporte é outro tema relevante, mas não foi isso que me tocou.

O que me maravilhou foi ver aquele professor que deixou de estar com sua família, ou de descansar da semana cheia de trabalho para estar ali, em pleno sábado de sol: na sinaleira, pedindo doações e incentivando seus alunos a sonhar.

Sim, isso é o mais importante.

Ele está ensinando, através do seu exemplo, a dedicação, ele está incentivando o esporte, ele está prestando um serviço imenso à sociedade; mas principalmente ele está ensinando esses jovens a sonhar, a tentar, a se esforçar para conseguir até a última opção. E, mesmo que eles não consigam, isso ficará nas suas memórias para sempre: o empenho na tentativa e a dedicação daquele professor.

P.S.: Segui a instrução do professor e procurei na internet mais sobre o projeto:

http://canoasriobrancojudo.blogspot.com.br/2012/04/judocas-do-rs-vao-as-ruas-pedir.html

domingo, 10 de junho de 2012

A propósito de uma perda

Bom, sexta fui às pressas para Cachoeira. Na quinta à noite me avisaram que a Dinha tinha morrido. Chorei muito, arrumei as malas e fui.

No velório, tinha um ódio imenso de cada um que chegava com um consolo esfarrapado: ela descansou (quem deve estar cansado é tu, cara de pau, ela estava cheia de planos, queria fazer uma plástica na barriga, tinha um vestido novo para o casamento da Rafa e tinha prometido que me veria defender minha Tese), foi melhor assim (esses eu juro que queria arrancar os olhos! Melhor para quem??) ou ela foi para uma lugar melhor (alguém perguntou a ela?).

Não sei se felizmente ou infelizmente não foi só de ódio minha sexta-feira. Quando os amigos próximos chegaram e, com um sentimento sincero, nos abraçaram, a tristeza foi grande. Um momento em especial foi terrível: a Lucinha, muito amiga da Dinha, com quem convivíamos todo verão (pois ela ia para casa da Dinha, na praia, que é junto a casa da vó, onde veraneávamos), saiu da capela aos prantos, trêmula, muito nervosa, muito delicada (como sempre) e incrivelmente sincera disse o que todos queríamos dizer: não acredito, não consigo exprimir minha tristeza, não entendo. Nesse momento, ninguém resistiu ao pranto, a cena era demasiadamente tocante.

Tenho tentado não chorar, mas é difícil. Ontem fui a casa dela buscar umas coisas que o vô tinha esquecido. Foi horrível ver a casa dela e saber que ela não voltaria. Achei que voltando para casa talvez ficasse mais fácil, afinal ela esteve aqui só uma ou duas vezes (moro aqui a pouco mais de um ano); mas não ficou.

Vou pegar uns livros e eles estão na cristaleira que ela deu. Venho para o computador e pego o cobertor que ela também deu, olho para mesa e lá está a toalha de mesa que vi na cerca da casa dela e disse: serve direitinho na minha mesa! e ela tirou da cerca na mesma hora, colocou numa sacola e mandou que levasse. Abro o armário e lá estão as panelas que ela ganhou do marido e nunca usou, deu-as quando vim para esse apartamento e não tinha nenhuma panela. Quem lê isso acha que ela me deu demais. É verdade. E se eu escondesse todas essas coisas ainda restaria muito - tudo aquilo que não será gasto pelo tempo: o curso de inglês para entrar no doutorado como ela queria, a especialização para eu não parar de estudar quando me formei, as inscrições para o mestrado, doutorado e inúmeros concursos, até os que passei.

Em suma, não há como escondê-la de mim e ela vai ficar doendo aqui por muito tempo. Provavelmente para sempre.