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sábado, 9 de agosto de 2008

A propósito de um corpo

Ao chegar na esquina de casa me deparei com uma cena inusitada: um aparato policial cercava um senhor deitado no chão. A princípio, acreditei que fosse um novo atropelamento, coisa que não raro acontece nesse problemático cruzamento cheio de atropelamentos e acidentes. Contudo o homem estava deitado sob a guarda da parada de ônibus, pensei então que fosse mais um dos muitos mendigos que se abrigam sob esse parco teto; não era. Sendo assim deveria ser vítima de um dos tiroteios que eventualmente ocorrem, embora sejam comuns à noite e não a essa hora do dia quando o movimento na rua é imenso; também não era. Era um homem comum que estava esperando o ônibus quando o coração decidiu parar. Parou e ele morreu ali mesmo sem tempo de ser levado às pressas ao hospital. Morreu. E chamaram a polícia!? Vão abrir um inquérito para tentar condenar o coração que assassinou o corpo que o abrigava!? Para que toda parafernália da Brigada? Duas viaturas e nenhuma ambulância... Nem mesmo um médico! Isolaram a parada e desviaram o trânsito, mas ninguém lembrou de acender uma vela para iluminar aquela alma. Esses são os tempos modernos...

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

A propósito de uma saudade (dessas que os interioranos radicados na capital sentem)

Sentir saudade tua não é só sentir saudade de ti,
Embora também seja
Sentir saudade de ti é a nostalgia de um tempo
E a tua presença também desperta tua saudade
De repente me vejo buscando velhas músicas
Me deixo por elas levar a viagem do tempo possível,
Por fim vejo que tua presença é própria saudade.

A propósito de um recital de piano

Ontem, um evento me surpreendeu. Fui a um recital de piano que prometia ser uma mostra de pequenos alunos temerosos mostrando seus primeiros movimentos ao piano. A primeira apresentação já mostrou que não seria exatamente o que imaginei. Uma senhora de aproximadamente 35 anos, entre meninas de plumas cor-de-rosa, mostrou com sua coragem que o velho clichê que nunca aprendemos deve ser posto em prática mais vezes: nunca é tarde para aprender.
A seguir, um garotinho de 5 ou 6 anos usando apenas seus minúsculos indicadores foi capaz de reproduzir aquelas canções infinitamente repetidas em nossa infância, mas que nunca fomos capazes de produzir em instrumento algum. As menininhas de cor-de-rosa mostraram que têm talento e estão se esforçando no aprendizado, apesar dos equívocos causados mais pelo nervosismo do que falta de prática.
Por fim, um menino, que prometia já ao olharmos o programa: uma de suas canções era de sua autoria. Evidentemente imaginei que seriam alguns simples acordes consecutivos algo esperado para uma criança de 16 anos. Errei: enquanto todos se apresentaram silenciosamente ele começou a cantar “Let it be” dos Beatles- essa música sempre me emociona- é fantástica. Mas sua composição foi ainda mais impressionante, “Música da vida” é uma melodia encantadora, por alguns momentos relembrei minha vida, pensei nos momentos passados e sofridos dos últimos dias, foi catártico: sai mais leve. Minha timidez me impediu de cumprimentar o jovem, afinal o que ele pensaria: essa senhora quer o que me dizendo isso, não entende nada de música e não sabe fazer um acorde qualquer: seria um elogio pequeno demais para sua grandeza.