8)

8)

domingo, 8 de julho de 2012

Amigos e irmãos

Lendo essas frases inúteis de Facebook me deparei com uma mentira absurda: Existem amigos que são como irmãos.

Não. Não existem.

Eu não estou engada. Tenho amigos que são preciosos, mas irmandade é outra coisa.

Existem, isso sim, amigos que são tão bons quanto irmãos.

Mas irmão, é só irmão mesmo.

Irmandade é fatalidade, é destino.

Amizade é afinidade, é caminho.

Irmão, por princípio, não se gosta muito, é aquele cara com quem tens de dividir o pai, a mãe e a casa. E pior: às vezes, o quarto, o computador, o rádio, a tv, o espaço e o tempo e o vó e vó e os livros e a escola, alguns amigos, o doce que mãe fez, o dinheiro que a vó deu e etc (nesse caso, etc é etc mesmo, não é por que não há mais o que dizer, é por que não há espaço e tempo para dizê-lo).

Irmão é competição. É do irmão que se aprende a ganhar e também com quem se aprende a repartir.

Irmão não é afinidade. Os irmãos não deixam de ser irmãos se ouvirem funk ou sertanejo universitário. Se fizerem economia ou ciências sociais. Se ficarem ricos ou virarem hippies. Irmão não se separam.

Irmãos são.

Nada abala o que é.

Podem ficar de mal, sem falar, mas continuam sendo.

O tempo vai burilar a relação. O chato ali descrito vai passar contigo pelo melhores e piores momentos da tua vida, só ele vai lembrar daquela banheira que tinha lá em casa e da torta de bolacha que a mãe fazia, só ele vai lembrar como era bom lá na praia quando as pranchas eram de isopor e só ele vai saber como e por que essa e aquela dor doem.

Muitos amigos vão saber de algumas dessas coisas. Mas só o irmão vai saber de tudo isso junto. Por isso existem amigos que são quase irmãos, são bons como eles, mas nada é como um irmão.

Que me perdoem os filhos únicos, que acham que têm muitos irmãos, mas irmão é só irmão MESMO.

domingo, 1 de julho de 2012

A propósito do amor

Frequentemente acordo apaixonada.

Milhares de especialistas escrevem sobre o amor e o casamento. Dessas teorizações saem uma dúzia de conselhos para acertar o parceiro ideal.

Eu acho isso de uma inutilidade total. Nada disso funciona sem amor.

Tenho mania de ler. Leio tudo que passa na minha frente e, certas vezes, alguns livros e revistas sobre relacionamento cairam em minhas mãos. Quando vi aquela prescrição: os opostos se atraem, mas só os iguais vivem juntos por toda vida, pensei: tô frita.

Meu marido é muito diferente de mim, isso é tão patente que desde que pusemos os olhos um no outro, sem ao menos proferir uma palavra, vimos que éramos incompatíveis segundo todos os manuais. Mas também, desse primeiro olhar de identificação, nasceu o amor.

É só isso que sustenta o nosso relacionamento: muito amor. Falamos línguas diferentes, sempre que tentamos "teorizar" sobre a relação só surge confusão, mas basta olhar nos olhos e a nuvem de dúvidas se desfaz. Não sei o que é, mas é tão concreto que chega a ser palpável, parece que temos uma ponte.

Ele gosta do isolamento, do ruído do rádio e da tv, de música barulhenta, de beber cerveja e jogar quieto. Eu gosto do silêncio depois de um dia de trabalho, de um livro para ler num canto, de um filme para ver junto. Somos opostos, mas de tal forma atraídos que não nos separamos. Estamos juntos há 14 anos e brigamos muito (afinal não nos entendemos), mas não nos distanciamos por um dia sequer e cada vez nos amamos mais e com o tempo a tolerância cresceu e fazemos muitas coisas por amor ao outro e até aprendemos a gostar de algumas coisas do outro. Só o amor gera compreensão.

Do que concluo que os manuais só podem estar redondamente equivocados. Ou, talvez, eles sejam escritos para um mundo onde o amor não existe, onde só podemos conviver com os iguais. Um mundo dominado pela intolerância.

Então quero fugir dos manuais e viver meu amor complicado, difícil e tolerante. Quero aprender outra língua, outra cultura, outra religião sem deixar as minhas. Quero ser casal sem deixar de ser eu mesma - coisa que parece de outro mundo, mas que eu gostaria que fosse só o "normal".