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terça-feira, 22 de julho de 2014

Método

Tudo que é feito com método torna-se mais fácil.

Toda pessoa inteligente, ao fazer uma atividade inúmeras vezes, desenvolve um método, uma forma para facilitar e encurtar essas atividades repetitivas.

Um colega diz que não chama faxineira em casa, pois ela leva um dia todo para fazer o que ele faz em duas horas. Eu acredito. Aqui em casa também é assim. Eu e meu marido fazemos uma faxina completa em uma hora e meia. Acredito que isso ocorra por dois motivos, o primeiro é que tu sabe que lugares mais precisam de limpeza e em quais a sujeira mais te incomoda, então tu vai focar neles. O segundo é o método.

Lavando louça, eu sempre penso em como fazer com que o sofrimento dure menos (principalmente no inverno, pois a cozinha é fria), então faço o seguinte:

1- Não sujo. Isso mesmo, explico, não coloco louças engorduradas junto com as não engorduradas. Deixo as mais sujas dentro da pia e as outras fora.

2- Não deixo a sujeira secar. Mais tarde, fica bem pior.

3- Sempre que possível uso água quente. Limpa mais, economiza sabão e, por isso, é mais "verde".

4- Lavo bem a esponja e deixo a água com sabão escorrer pela louça mais suja. Às vezes fecho o ralo para molhá-las bem.

5- Ensaboo a louça menos suja e enxáguo em cima daquela mais suja. Se a pia enche, vou esvaziando e deixando encher de novo ao longo do processo, assim a água vai tirando os resíduos.

6- Depois eu lavo bem a esponja de novo e termino.

Fica tudo limpinho bem rápido. E fico pensando em como desenvolver método para toda a faxina, determinando o que quero que seja feito e como para passar a faxineira e me livrar dessa horinha de trabalho chato, já fiz um check-lis, mas falta bastante para tornar-se método, mas vamos indo, um dia fica bom.

A máxima da Mi

A humanidade passou milênios aprendendo a lidar com a escassez. Nossa mente está modelada para isso, nosso corpo, nosso paladar que aprova com avidez os sabores doces e comidas fritas.

E agora? Como vamos lidar com a super abundância? Nas cidades brasileiras, há uma abundância de comida, há comida à vontade por preços bem acessíveis. Principalmente comidas de baixa qualidade nutricional e alto teor calórico. Quando saímos do país ficamos chocados com o alto preço que pagamos por pequenas porções. Não há rodízio, nem buffet nos lugares que conheci. Na maioria, os pratos são individuais e me deixavam apenas satisfeita.

Aqui é diferente, acho que dos sete pecados capitais, o mais praticado aqui é a gula (acho mesmo!). E como lidar com nossa gula vendo tantos pratos lindos?

Não adianta cumprir uma dieta rígida, de repente nos deparamos com uma situação em que não há como escapar: um rodízio de pizza, uma ilha de massas, um buffet de sushi, festa de aniversário, um café na casa da vó...

Diante de tudo isso, uma amiga (Michelle) formulou uma máxima: não é por que pegou, colocou no prato, comprou, pagou caro que vai comer. Ela sempre diz: "Não engorda pelo que não vale a pena". Se provou, e não era bom, deixa no prato, não come.

Para mim, é difícil, fui ensinada pela lógica da escassez, ensinada a não deixar nada no prato, que colocar comida fora é pecado com tanta gente passando fome no mundo. Contudo, eu me convenci, é bem mais fácil e barato colocar no lixo um pouco de comida (afinal se não se gosto, pego pouquinho para não desperdiçar) do que colocar na boca e passar meses malhando para eliminar aquele momento de constrangimento.

Ainda é pouco para resistir a tanta oferta, mas é um começo.

quinta-feira, 10 de julho de 2014

Admirável mundo novo

Toda vez que leio algum dos futuristas do passado fico assombrada com os acertos que comentem. 1984 eu nem comento mais, pois é auto evidente. O controle "remoto" (que, na verdade, é televisão, o computador, o celular) está dentro das nossas casas e apple promete cada vez mais. Somos teleguiados e levamos nossa teletela aonde vamos.

Nessa semana estou lendo "Admirável mundo novo" e outra vez fiquei surpresa. Que visionários! Como adivinharam que tudo isso aconteceria quando nem tínhamos tecnologia para tanto! E eu ainda fico chocada.

A forma como Huxley, em 1932 (!), vê a sexualidade em seu mundo futuro é exatamente a filosofia da fila anda, do baile funk, da necessidade e utilidade sexual egoísta, ou seja, é a filosofia atual. Em sua história, romantismo é selvagem, não há nenhuma razão prática para cortejar um par. Os casais se formam por conveniência, se os dois estão livres naquele dia e querem, está feito par, amanhã se vê. É mal visto ficar muito tempo com um mesmo par, afinal assim se deixa de experimentar vários outros e não há lógica nisso.

A religião é motivo de riso. As pessoas não creem em nada e nem pensam na vida futura, seja espiritual, seja a vida dos que virão depois, eles não têm filhos, nem sobrinhos, nem vínculos afetivos. As mensagens de felicidade repetidas a exaustão fazem com que todos acreditem que são felizes e pronto. "Abra a felicidade" e tudo está resolvido ou não importa.

O uso do soma é exatamente igual aos nossos antidepressivos. Ninguém pode processar um luto com lágrimas e recatamento. Ninguém pode ficar desesperado, perdido ou triste que já receitamos uma terapia, um remedinho. Não temos o direito de chorar, é doença, é fraqueza, é falha de caráter, a sociedade simplesmente não aceita.

Outra questão é a maternidade. Estamos quase no ponto de "higiene" da visão futurista do autor. Lá "mãe" é uma palavra obscena. Aqui gerar um filho é quase um pecado, comentários repreendedores são comuns ainda mais para mulheres que trabalham e prezam sua vida profissional. O parto normal é uma aberração, um escândalo, principalmente entre os obstetras. A amamentação constrange aos que estão em torno. Enfim, a natureza não é suficientemente higiênica para nós. Se pudéssemos gerar nossos filhos em frasquinhos estéreis, com certeza faríamos e, se não quiséssemos, seríamos obrigados a fazer, pois não devemos deixar, nem por alguns meses de cumprir nossa função social, pois a sociedade e sua ordem é o que há mais importante.

Cada vez estamos mais longevos, mas aceitando cada vez menos a velhice. São plásticas, procedimentos estéticos, cremes, dietas, fórmulas antioxidantes, exercícios e toda uma parafernália que nos mantém mais "belos" e mais jovens tanto em aparência quanto em comportamento. Exatamente como no livro, devemos ser infantis fora do trabalho: é normal que adultos de 30, 40, 50 e até 60 anos se comportem, se vistam e vivam como adolescentes de 13, se não vivemos assim, somos velhos, caretas ou simplesmente chatos.

Em 1932, nem mesmo meus avós eram nascidos, em 1948, minha avó tinha 13 anos e nunca tinha visto um telefone ou uma televisão. De onde vinham indícios para a nossa radical mudança de comportamento?