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quinta-feira, 10 de julho de 2014

Admirável mundo novo

Toda vez que leio algum dos futuristas do passado fico assombrada com os acertos que comentem. 1984 eu nem comento mais, pois é auto evidente. O controle "remoto" (que, na verdade, é televisão, o computador, o celular) está dentro das nossas casas e apple promete cada vez mais. Somos teleguiados e levamos nossa teletela aonde vamos.

Nessa semana estou lendo "Admirável mundo novo" e outra vez fiquei surpresa. Que visionários! Como adivinharam que tudo isso aconteceria quando nem tínhamos tecnologia para tanto! E eu ainda fico chocada.

A forma como Huxley, em 1932 (!), vê a sexualidade em seu mundo futuro é exatamente a filosofia da fila anda, do baile funk, da necessidade e utilidade sexual egoísta, ou seja, é a filosofia atual. Em sua história, romantismo é selvagem, não há nenhuma razão prática para cortejar um par. Os casais se formam por conveniência, se os dois estão livres naquele dia e querem, está feito par, amanhã se vê. É mal visto ficar muito tempo com um mesmo par, afinal assim se deixa de experimentar vários outros e não há lógica nisso.

A religião é motivo de riso. As pessoas não creem em nada e nem pensam na vida futura, seja espiritual, seja a vida dos que virão depois, eles não têm filhos, nem sobrinhos, nem vínculos afetivos. As mensagens de felicidade repetidas a exaustão fazem com que todos acreditem que são felizes e pronto. "Abra a felicidade" e tudo está resolvido ou não importa.

O uso do soma é exatamente igual aos nossos antidepressivos. Ninguém pode processar um luto com lágrimas e recatamento. Ninguém pode ficar desesperado, perdido ou triste que já receitamos uma terapia, um remedinho. Não temos o direito de chorar, é doença, é fraqueza, é falha de caráter, a sociedade simplesmente não aceita.

Outra questão é a maternidade. Estamos quase no ponto de "higiene" da visão futurista do autor. Lá "mãe" é uma palavra obscena. Aqui gerar um filho é quase um pecado, comentários repreendedores são comuns ainda mais para mulheres que trabalham e prezam sua vida profissional. O parto normal é uma aberração, um escândalo, principalmente entre os obstetras. A amamentação constrange aos que estão em torno. Enfim, a natureza não é suficientemente higiênica para nós. Se pudéssemos gerar nossos filhos em frasquinhos estéreis, com certeza faríamos e, se não quiséssemos, seríamos obrigados a fazer, pois não devemos deixar, nem por alguns meses de cumprir nossa função social, pois a sociedade e sua ordem é o que há mais importante.

Cada vez estamos mais longevos, mas aceitando cada vez menos a velhice. São plásticas, procedimentos estéticos, cremes, dietas, fórmulas antioxidantes, exercícios e toda uma parafernália que nos mantém mais "belos" e mais jovens tanto em aparência quanto em comportamento. Exatamente como no livro, devemos ser infantis fora do trabalho: é normal que adultos de 30, 40, 50 e até 60 anos se comportem, se vistam e vivam como adolescentes de 13, se não vivemos assim, somos velhos, caretas ou simplesmente chatos.

Em 1932, nem mesmo meus avós eram nascidos, em 1948, minha avó tinha 13 anos e nunca tinha visto um telefone ou uma televisão. De onde vinham indícios para a nossa radical mudança de comportamento?

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