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segunda-feira, 31 de maio de 2010

Pelo direito às lágrimas

Quero poder chorar. Quero poder gritar. Não quero ser polida e racional o tempo inteiro.
O que conseguimos com a revolução feminina?
O grande direito de termos de nos comportar como homens.

Coisa que não somos.

Dentre todas as mulheres que conheço, sou uma das menos choronas. Não choro por causa de comercial, novela, filme ou livro. Não choro por causa de cenas cruéis que o cotidiano nos oferece; mas quero poder chorar quando tiver vontade.

Não posso brigar com ninguém. Seja por raiva, ódio ou emoção. Me dá vontade de chorar. Chorar bastante. Principalmente quando brigo por algum motivo grave ou que pode causar graves conseqüências.
Sei lá por que motivo as pessoas tem medo de pessoas que choram. Chorar é normal, faz parte das reações normais das pessoas.

Estudando um pouco de crônicas do século passado, percebemos que as pessoas berravam, se descabelavam, estouravam de tanto chorar por qualquer motivo que parecesse plausível. Brigas com o namorado, separação, morte. Qualquer coisa era motivo justo para se descontrolar. (Se surpreendeu que a "morte" seja um bom motivo para o descontrole? Provavelmente. Afinal hoje em dia nem os velórios são bons lugares para o enlouquecimento. Temos de parecer resignados e comedidamente tristes. Só. Tudo sob medida.

Saco.

Vou chorar!!!! O quanto eu quiser! E quem quiser estar ao meu lado vai ter de agüentar.

domingo, 30 de maio de 2010

A propósito do aniversário da minha vó


Minha avó é um pequeno símbolo (e um símbolo pequeno) de como o politicamente correto não dá certo, pois ela é totalmente avessa a ele: ela dispara o que vem a mente para depois colocar as duas mãos sobre a boca, arregalar seus grandes olhos azuis e rir pela maldade proferida.
Ela poupa elogios - só os diz quando eles são verdadeiros e evidentes - e atira críticas como a metralhadora do Rambo; mas ela não é ranzinza como eu. Ela fala tudo de uma vez para quem tem de escutar e não resmunga mais nada sobre isso.
No alto de seus recém-completos 75 anos faz mais que muita moça de 20. Acorda às 6:30 e arruma, lava, passa e limpa até não aguentar mais esperar o vô levantar para tomar café. Lá pelas 9, ela o chama.
Comida ela não faz ou finge que não faz. Depois de 30 anos em sala de aula afirma (e quer que acreditem) que não sabe nada de história. Não sai muito. Acha tudo muito chato. Todavia, não pára de fazer amigos.
Hoje (06/04) quando disse que ia visitá-la, ela respondeu: alegria e água fria é o que teremos! E explicou que não estava esperando ninguém. Quando cheguei, tinham mais de 20 pessoas empilhadas em todas as peças do apartamento. Parentes, filhos, netos, sobrinhos, amigos antigos e novos todos foram prestigiá-la (e telefone não parou de tocar).
Disso só posso concluir que as pessoas não gostam do polido ou do politicamente correto, mas do autêntico e sincero, como é a minha vó.



Meu vô foi o único que tive, mas valeu por uns cinco. Pelo menos. Meu avô me levou na garupa, me ensinou a nadar, a furar onda, pegar jacaré e a boiar. Ninguém bóia como ele, tranqüilamente, enquanto as ondas do nosso mar revoltado tentam acordá-lo do sono fingido. Mas ele me ensinou coisas ainda mais importantes, grandiosas mesmo, que criaram o que sou.
Por isso quando ele diz que sofre, eu sofro também e tenho uma raiva imensa de quem o faz sofrer, mesmo que esse alguém seja eu mesma.
Não é esportista, mas sabe tudo de futebol e tem na memória um acervo de partidas inacreditável. Não é engenheiro, mas sabe tudo de construção. Não é cozinheiro, nem nunca trabalhou no Mac, mas suas batatinhas fritas são imbatíveis (e não são das congeladas!!) Ele é meu vô e isso ele também sabe ser como ninguém mais.
Por isso, quando ele diz que vai morrer, eu quase me ofendo. Como pode? Como vou me virar sozinha? Não! Como eu sempre digo para ele: tu não estás autorizado a morrer! Tu ainda vai embalar teus bisnetos e eu ainda quero passar muito tempo contigo. E se alguém me perguntar quanto tempo vai ser o bastante. Vou responder que nenhum tempo será o bastante e avós como os que tenho deveriam ser eternos!

terça-feira, 25 de maio de 2010

À mamãe Nine que há de nascer e à Nine mamãe que sempre existiu

A Nine, stritu sensu, só será mãe quando o Guto nascer; mas sempre houve uma Nine mamãe na Nine que ainda não era.
E, talvez, toda angústia da Nine que não era fosse a de ser. Por isso a Nine de hoje não é mais aquela das brincadeiras de Barbie e das noites de adolescência.
A Nine de hoje é aquilo que a Nine de antes não era. Ela se livrou da possibilidade de não ser.

E isso muda tudo.

Nossa amiga está radiante. Pela primeira vez, feliz com seus quilinhos a mais. Satisfeita com seu corpo, com a sua perspectiva de futuro a curto e a longo prazo, com seu emprego, com sua casa, com sua vida. Não que isso seja tudo que ela quer, mas satisfação é contagiante.

Hoje ela é só alegria e isso se transmite através de seu riso fácil e estrondoso, da sua fala constante e alta sempre pronta a narrar todos os detalhes de sua ainda recente maternidade.
Nesse momento, a Nine é plenitude.
É plenamente mãe e, talvez só agora, plenamente Nine.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

A propósito da tristeza

Tristeza não tem fim, felicidade sim...

Mas tristeza normalmente tem um motivo específico, a vida é cheia de motivos, por isso seguidamente ficamos tristes. A felicidade não. Ela vem sem razão, mesmo que tudo dê errado, mesmo que existam muitos problemas a nossa volta.

Felicidade é gratuita. É louca. Chega sem razão, porém vai embora por que algo, maior que ela, vem estragar tudo.
Tristeza não. Ela chega com motivo. E ficamos tentando "mastigá-lo" para processá-lo e mandá-lo embora. O motivo pode ser banal. E normalmente é. Pode ser só da nossa cabeça. E muitas vezes é. Mas é um motivo.

Hoje estou triste. Meu motivo é banal, pode até ser malévolo; mas é legítimo. Não quero estar triste, mas não consigo processar minhas dores. Não consigo me convencer de que não há por que se aborrecer e não consigo entender como quem me ama pode me criar problemas entristecedores conscientemente. Eu não sei se faria isso, pelo menos não sem algum incômodo. Vejo essa atitude, no mínimo, com pesar.

É um desabafo.

Novamente, sei lá.

sábado, 1 de maio de 2010

A propósito de escolhas

O que pode ser determinante para um bom casamento? Estava lendo um livro português (Sempre maravilhoso Helder Macedo- Vícios e Virtudes) que falava de casamentos arranjados e um personagem dizia ao outro (que estava sendo casado) que ele ainda tinha escolha. em resposta o outro personagem diz: então qual é a vantagem do casamento arranjado?

Sim, pois sua grandissíssima vantagem é não termos de escolher. Escolher é um problema muito grave. Um responsabilidade imensa. Se tudo der errado, não podemos culpar ninguém, afinal, fomos nós mesmos que escolhemos. Talvez por isso a CULPA seja o grande problema da pós-modernidade.

Escolhemos sozinhos nossos casamentos, profissões e apartamentos e não temos a quem culpar por nossos erros (embora Freud ainda assim nos respalde). E, se qualquer dessas coisas der errado, a nossa culpa fica nos assombrando.

Ter escolhas é bom? Sim, talvez, nem sempre...

Mas uma coisa é certa: é sempre mais difícil.