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domingo, 10 de junho de 2012

A propósito de uma perda

Bom, sexta fui às pressas para Cachoeira. Na quinta à noite me avisaram que a Dinha tinha morrido. Chorei muito, arrumei as malas e fui.

No velório, tinha um ódio imenso de cada um que chegava com um consolo esfarrapado: ela descansou (quem deve estar cansado é tu, cara de pau, ela estava cheia de planos, queria fazer uma plástica na barriga, tinha um vestido novo para o casamento da Rafa e tinha prometido que me veria defender minha Tese), foi melhor assim (esses eu juro que queria arrancar os olhos! Melhor para quem??) ou ela foi para uma lugar melhor (alguém perguntou a ela?).

Não sei se felizmente ou infelizmente não foi só de ódio minha sexta-feira. Quando os amigos próximos chegaram e, com um sentimento sincero, nos abraçaram, a tristeza foi grande. Um momento em especial foi terrível: a Lucinha, muito amiga da Dinha, com quem convivíamos todo verão (pois ela ia para casa da Dinha, na praia, que é junto a casa da vó, onde veraneávamos), saiu da capela aos prantos, trêmula, muito nervosa, muito delicada (como sempre) e incrivelmente sincera disse o que todos queríamos dizer: não acredito, não consigo exprimir minha tristeza, não entendo. Nesse momento, ninguém resistiu ao pranto, a cena era demasiadamente tocante.

Tenho tentado não chorar, mas é difícil. Ontem fui a casa dela buscar umas coisas que o vô tinha esquecido. Foi horrível ver a casa dela e saber que ela não voltaria. Achei que voltando para casa talvez ficasse mais fácil, afinal ela esteve aqui só uma ou duas vezes (moro aqui a pouco mais de um ano); mas não ficou.

Vou pegar uns livros e eles estão na cristaleira que ela deu. Venho para o computador e pego o cobertor que ela também deu, olho para mesa e lá está a toalha de mesa que vi na cerca da casa dela e disse: serve direitinho na minha mesa! e ela tirou da cerca na mesma hora, colocou numa sacola e mandou que levasse. Abro o armário e lá estão as panelas que ela ganhou do marido e nunca usou, deu-as quando vim para esse apartamento e não tinha nenhuma panela. Quem lê isso acha que ela me deu demais. É verdade. E se eu escondesse todas essas coisas ainda restaria muito - tudo aquilo que não será gasto pelo tempo: o curso de inglês para entrar no doutorado como ela queria, a especialização para eu não parar de estudar quando me formei, as inscrições para o mestrado, doutorado e inúmeros concursos, até os que passei.

Em suma, não há como escondê-la de mim e ela vai ficar doendo aqui por muito tempo. Provavelmente para sempre.

2 comentários:

Memórias de uma portoalegrense disse...

A Dinha é essa senhora da esquerda. Na fotografia, estão meu vô e minha vó antes deles começarem a namorar. E a sombra do fotógrafo nos pés, caso ninguém tenha reparado...

Ministério Feminino da IBPV - MCA disse...

A "Dona Dinha"... SAUDADEs... Que vão doer... doer... doer...