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sábado, 1 de janeiro de 2022

Sabedoria

De repente pareço experimentar de um tipo de sabedoria a qual não tinha acesso antes, parece que a maturidade vem aos saltos, depois de períodos cinzas, sobre assuntos aleatórios como os mistérios da vida ou as fofocas de antigamente (o tempo nos faz ver com clareza e dar as coisas as dimensões que elas têm).

Parece que minha avó anda a soprar- me coisas de um entendimento de outra dimensão ou talvez seja a falta dela me fazendo repensar tudo que vivi até aqui. Me fazendo lembrar de novo (esse blog está aqui para provar que sempre celebrei a vida dela) do caminho todo que ela trilhou e me sentir privilegiada, pois ela arrumou o meu caminho e por isso foi bem mais suave que o dela.

Minha avó não era das palavras bonitas, nem dos gestos posados. Ela era linda e autêntica e sempre que precisava escolher entre a beleza ou a verdade, ficava com a verdade.

Foi estranho notar que ela vivia voltada para a família mais próxima, dizia que ter muitos amigos gastava muita energia e dinheiro. Entretanto nunca vi idosos tão cheios de amigos. Lá na beirinha de seu túmulo, estava sua querida colega de faculdade, general como ela, comandando a colocação do caixão. A casa da praia sempre cheia, o apartamento com visita todo santo dia (até os vizinhos jovem iam visitá-los com frequência para ganhar conselhos, falar das notícias e do futebol) e o telefone sempre tocando (e ela falava 2 minutos e dava tchau).

Concluí que ela colocava realmente a energia necessária para manutenção de uma amizade, por isso sabia o quanto era "caro" manter um amigo. Você pode pensar que ela pagasse seus amigos, mas ela nunca deu dinheiro aos amigos (nem para os netos que não era muito seu feitio). Embora ela sempre fizesse as contas de quanto gastaria ao ser convidada para uma festa (viagem, roupa, cabeleireiro, presente), sempre esteve presente, linda e sorridente. As contas, ela dizia para nós (acho que seus amigos nunca souberam, mas também não duvido), para nos ensinar a investir onde era preciso. 

Outro ensinamento que ela nunca disse, mas mostrou bem foi que as pessoas de verdade, gostam mesmo de autenticidade e não de adulação. Ela não era de presentes (até repreendia quem nos desse, não era à toa que a Dinha nos dava coisas e dizia para não contar para vó), nem de elogios públicos. Ela criticava pouco, mas bem e bem na nossa cara. Dos outros falava pouco e julgava menos ainda, deixava os julgamentos para os personagens da novela e os jogadores de futebol. 

Até o fim foi rodeada de muitos amigos de verdade, da família próxima e da família adotada. Que estavam lá, pois gostavam dela e admiravam seu jeito generoso de distribuir amor.

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